TAYANE SANSCHRÍ

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Mulheres que amam de menos

 
Por: Antônio Roberto

“Faço o máximo para agradar meu namorado, mas parece que ele tem prazer em me magoar, desprezar e criticar. Por que isso ocorre?”

“As pessoas têm falado muito ultimamente na figura da mulher que se instala em relações de sofrimento, que, para ter um companheiro, pagam qualquer preço, e têm extrema dificuldade de romper com tais relacionamentos. São as chamadas mulheres que ama demais. Para a existência do comportamento dessas mulheres que parecem amar tanto a ponto de aceitarem maus-tratos, desprezo e indiferença, é preciso a presença de outra figura importante para completar a montagem perversa: “homens que amam de menos”.
O namoro, o casamento, a família e a amizade são instituições nas quais devemos exercitar a operacionalizar o sentimento do amor. A relação homem e mulher, além de ser básica, deveria ser a mais prazerosa, já que inclui, entre outras coisas, o companheirismo, a sexualidade e a construtividade do futuro. Por que tanta hostilidade, tanto confronto, tanto sofrimento, tanta humilhação?
Só há uma resposta: a incapacidade de amar.
Essa doença, na forma de dominação e posse, acomete principalmente a figura masculina enquanto que a forma de desamor mais comum nas mulheres é a submissão, a dependência, a renúncia, confundida muitas vezes com o amor. Por isso é que há um grande equívoco em nomear as mulheres que perderam o autoamor e a dignidade e que se sujeitam à violência masculina como mulheres que amam demais. Não há nenhum amor aí. Toda doença emocional é falta de amor.
No homem, a incompetência para lidar com o afeto e a ternura aparece sob a forma de abuso de poder, de autoritarismo e de certo prazer camuflado em ver a mulher sofrer. Essa incapacidade amorosa de alguns homens tem várias razões. A primeira delas remonta à relação que o homem teve na infância na sua primeira experiência com mulher: com a mãe. Ou foram muito protegidos pelas mães e não aprenderam que o outro existe com necessidades afetivas também. Por isso querem receber sempre toda a atenção da mulher sem nenhuma reciprocidade. E quanto mais a mulher se anula para atendê-los, mais satisfeitos se sentem. Seu nível de exigência é sem limite e a mulher à sua volta se sente constantemente em falta, com culpa, com a incumbência de fazê-los felizes, o que é impossível por dois motivos: primeiro porque ninguém faz ninguém feliz e segundo porque eles são insaciáveis.
Ou então não foram amados pelas mães e nem sabem o que é amar. O apego que as mulheres desenvolvem é acompanhado de uma raiva reprimida à figura feminina, traduzida nas formas de relacionamento tão denunciadas pelas mulheres: frieza, críticas, impaciência, irritação, ar de superioridade e o famoso jogo do desprezo, do abandono e do ciúme. No fundo, eles maltratam as mulheres por medo da rejeição. Fazem questão de sentir superiores, tendo sempre razão. As brigas constantes não têm por objetivo resolver os problemas, mas destruir a figura feminina, culpando-a pelo fracasso do relacionamento.
“Seu ciúme acabou com nosso relacionamento”, dizia um marido, sem se perguntar de que maneira ele alimentava o ciúme da mulher, com indiferenças, ameaças de separação, críticas etc, ou de que maneira poderiam fazer uma terapia de casal para aprender a amar. Nesse caso, a própria separação é mais um ato de desprezo e vingança à figura feminina.
Os homens que amam de menos terão dificuldade em qualquer namoro ou casamento que venham a ter porque sua incapacidade de amar é o verdadeiro problema. Conhecemo bem o deficiente físico ou o deficiente intelectual e não prestamos atenção aos deficientes afetivos. Se para andar precisamos das pernas e da competência motora, para nos relacionar bem precisamos da competência amorosa. Há pessoas que não sabem ou não conseguem amar. Sofrem e produzem sofrimento em quem delas se aproxima ou com elas convive. O medo do abandono, da rejeição e da traição de serem magoados coloca os homens que amam de menos numa posição de defesa com relação a suas parceiras. Em casos extremos, são capazes de agredir fisicamente a até matar suas mulheres.
Homens que amam de menos e mulheres que amam demais são neuroticamente complementares. Daí a dificuldade de se separarem. Permanecem durante anos nesse jogo em que uns sentem prazer em bater e outros em apanhar.
É comum, nesses casais, nos intervalos das cenas de violência, juras de amor, a prática compulsiva de sexo e o pedido apaixonado de perdão. Como, porém a causa fundamental é a incapacidade de amar, logo em seguida recaem na repetição do drama e da dor. O contrário do amor é o medo. E a louca solução encontrada é destruir o objeto do medo, que deveria ser o objeto do amor. Maltratar e desprezar a pessoa que se diz amar. O que salva é que a invalidez amorosa tem cura, não é uma invalidez permanente. Todo processo terapêutico, todo processo religioso tem por objetivo nos ensinar a amar.
Quando descobrimos que a única solução para sermos felizes é o amor, quando percebemos nossa dificuldade de amar, estaremos entrando na senda da felicidade. Sem amor nos enredamos pela teia da competição e hostilidade com o outro, gerando em nós e em nossos relacionamentos um profundo  vazio, tédio e depressão.”


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