A moça estremeceu dentro do seu vestido verde, esvoaçante, perfumado, de organdi, ante ao olhar sedutor e vagabundo do rapaz, forte, alto, roupas justas, deixando antever as formas perfeitas que exibiria sem elas; um misto de pudor, medo e desejo percorreu lhe o corpo, tudo isso ela viu num rápido olhar, um rápido instante, prendeu tudo como numa foto, sem sair do seu canto, e percebeu pelo canto do olho que o olhar do homem; olhar forte e voraz, como seus músculos, ainda a tocavam, com virilidade e mais uma vez estremeceu dentro do vestido, wrap dress, o vermelho da face contra o branco da pele, o verde do vestido contra o vermelho do rosto, o viés do olhar que via o toque viril do olhar vagabundo.
No instante seguinte ele estava próximo e quebrou tudo ao seu redor com uma pergunta trivial, ela empalideceu, mas se recuperou a tempo e engoliu em seco a resposta que dera em um sorriso branco, ele assumiu o controle e com apenas um toque transformou o estremecimento, o vestido verde, o perfume, o pudor, o medo, o desejo, o instante em belíssimas notas de uma canção urbana.
[Alberto de Carvalho]